Nas semanas anteriores, falamos um pouco sobre estratégias de leitura e gêneros/tipos textuais, lembra (e caso não lembre, pode clicar AQUI e AQUI pra lembrar.) ? Aprofundando essas duas aulas, hoje eu vou ensinar vocês mais algumas estratégias de leitura relacionadas ao meu gênero textual favorito: narrativas gráficas. Mas Tony do céu, o que diabo é isso? Calma que eu já explico! Como escrito pelo professor Jozefh Queiroz em seu livro Quadro a Quadro, a narrativa gráfica, ou arte sequencial, como define Will Eisner, um dos principais estudiosos dos quadrinhos, é um gênero que combina peculiarmente palavras e elementos pictóricos (imagens), numa harmonia que termina por produzir uma forma de arte com elementos próprios.
"Por que falar de quadrinhos?" você pode estar se perguntando. A resposta é simples: esse gênero está MUITO presente em praticamente todo tipo de prova de vestibular e concurso (e em livros de português; pode perceber, é cheio dessas coisas, e não é por acaso!), e como eu citei acima, é uma forma de arte com elementos próprios, e entender bem esses elementos pode ser decisivo na hora de acertar uma questão. Além disso, conhecer um pouco mais sobre quadrinhos pode salvar o seu pescoço também em outras matérias! Duvida? Então clique AQUI para saber um pouco mais sobre por que quadrinhos são importantes! Assim que voltar, vamos começar nosso estudo com a imagem abaixo, ok?
(Fragmento de Nova York, quadrinho de Will Eisner publicado originalmente durante os anos 80)
Mesmo que você não entenda uma palavra sequer em inglês, você muito provavelmente consegue sacar o que acontece na história acima não? Vamos analisar os elementos que te ajudaram:
Essa narrativa gráfica apresenta pelo menos dois personagens relevantes, que são a mulher de cabelo claro e a mulher de cabelo escuro. Elas podem ser facilmente identificadas como mais importantes que os outros personagens desenhados por vários fatores, como a maior quantidade de detalhes em seus desenhos (perceba que os personagens do fundo tem uma finalização menos refinada, desenhados com rabiscos, sem feições definidas). Além disso, as mulheres interagem apenas entre si e apenas elas tem falas, o que reforça sua importância para a história. Preste bem atenção nas expressões faciais/linguagem corporal das personagens. O que será que elas podem nos dizer sobre o que está acontecendo?
Os textos nos balões são as falas, enquanto o texto fora dos balões são as onomatopéias representando o som do ambiente. Percebe como o tamanho da letra dentro dos balões muda de um quadro para o outro? Isso acontece para indicar o volume da voz da protagonista. Obviamente, o conteúdo escrito dentro dos balões também tem um valor indispensável para o entendimento total da obra.
Histórias ocidentais costumam ser lidas da esquerda para a direita e de cima para baixo (ao contrário das orientais, que são lidas da direita para a esquerda direita, mas também de cima para baixo) e são contadas por quadros. A disposição dos quadros e dos balões nos ajuda a entender o tempo da narrativa, mostrando a ordem dos acontecimentos durante a história. Para entender esse tipo de texto, temos que ler esses elementos na ordem correta. Perceba que as personagens estão em movimento, e que esse movimento nos dá pistas do que elas estão fazendo ou dizendo.
O cenário opera uma função interessantissima em narrativas gráficas, pois ao saber onde os personagens estão, temos pistas dos motivos de suas ações, falas e atitudes. Se o cenário não aparece na história (como em alguns quadrinhos da Turma da Mônica), é por que provavelmente o foco daquele momento na narrativa está nas falas/interações dos personagens (podendo ser introduzido em outro quadro se houver necessidade). No exemplo acima, o cenário é uma rua em uma cidade grande.
Agora vamos juntar esses elementos todos numa coisa só: temos duas mulheres (personagens), andando por uma rua barulhenta (cenário e onomatopéias). Uma delas grita (balões), até que desiste e as duas vão embora (quadro, tempo e movimento), parecendo tristes (expressões faciais/linguagem corporal). O que será que aconteceu? Aos mais atentos, devem ter percebido que a palavra "Joey" aparece seis vezes na história, então ela deve ter algum valor. Aos que assistem muito filme (ou pelo menos o anime Yu-Gi-Oh!), sabem que Joey é um nome próprio e provavelmente masculino. Sendo assim, nossa protagonista está gritando por um rapaz, que não aparece na história, numa rua barulhenta, e depois se entristesse e vai embora. Preciso mesmo explicar o que ocorreu? (para os mais lentos, ela marcou um encontro com o rapaz naquela rua, mas não disse em qual lado. Ele não conseguiu acha-la e ela não conseguiu chamar a atenção dele, resultando num desencontro. Triste né?). Pode parecer uma história surreal para os tempos de hoje, mas observe a legenda da imagem. Ela retrata uma Nova York dos anos 80, uma época em que as pessoas não tinham celulares, whatsapp ou rede social para ajudar nesse tipo de coisa. Aqui eu trago um ultimo elemento importante para o entendimento da história: o contexto. Saber quando uma história foi publicada, quem é seu autor, onde ela foi publicada, qual seu objetivo, entre outros elementos, pode nos dar várias pistas para ajudar no seu entendimento. Vamos ver mais um exemplo abaixo:
(Charge publicada online no site jornalístico Diário do Nordeste, em 10 de Março de 2020)
Antes de mais nada, vamos atentar ao fato dessa narrativa gráfica ser uma charge. A professora Daniela Diana define a charge como um gênero jornalístico que se utiliza da imagem para expressar à coletividade o posicionamento editorial do veículo. É uma crítica carregada de ironia e que reflete situações do cotidiano. O termo charge é oriundo do francês charger e que significa carga, exagero e ataque violento. As charges retratam situações da atualidade.
Seguindo o mesmo raciocínio de mais cedo, vamos analisar os elementos. Temos dois personagens nessa charge, um médico (facilmente reconhecível pelo jaleco, prancheta e termômetro) e o Dólar (representado por uma imagem de George Washington, o presidente americano estampado nas notas de um dólar). O Dólar sofre de uma doença (o que fica explícito por conta de sua expressão sofrida, termômetro e compressa na cabeça). O cenário provavelmente é um quarto de hospital (já que temos uma cama e um médico). O texto no topo da charge é com certeza o título. Não há onomatopéias, mas há um balão de fala com os dizeres "não para de subir!". Temos também um termômetro gigante em vermelho vivo bem no meio da imagem, chamando muita atenção, registrando temperaturas altíssimas. A charge foi publicada em um site de jornalismo Diário do Nordeste, ou seja, provavelmente reflete algum evento recente, o que nos dá um contexto. Além de tudo isso, temos o título no topo, que é bem auto explicativo. Qual a conclusão que podemos chegar ao analisar essa charge?
Como você com certeza já sabe (a não ser tenha se escondido embaixo de uma pedra nos ultimos meses), o valor do dólar em comparação ao real tem subido (está em R$5,49 no momento da publicação dessa aula). Perceba como novamente, através dos elementos do gênero (e um pouquinho de ajuda do conhecimento de mundo), conseguimos fazer uma leitura detalhada dessas narrativas gráficas, melhorando nossa compreensão do que quer ser comunicado. Por fim, vamos a um terceiro exemplo, com alguns personagens que vocês provavelmente já conhecem, mas do jeito que EU gosto: em inglês!
(Monica's Gang, a versão em inglês da Turma da Mônica)
Débora Silva define a tirinha como uma sequência de quadrinhos que geralmente faz uma crítica aos valores sociais. Este tipo de texto humorístico é publicado com regularidade. Pode-se dizer que são como as histórias em quadrinhos (HQ’s), porém bem mais curtas. As tirinhas podem estar contidas em jornais, revistas e em sites da Internet.
Nessa história de uma página, vemos toda a turma (Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali) e dois homens como personagens da história. Prestando atenção nas roupas, acessórios, ações e ambientes em que estão dois homens, podemos facilmente chegar à conclusão que são um lenhador e um vendedor. Isso é o que chamamos de estereótipo e é uma elemento muito presente nos quadrinhos, especialmente em tirinhas e charges, nas quais as histórias costumam ser muito curtas e os personagens tem que ser apresentados e reconhecidos muito rapidamente. Foi através do estereótipo que você reconheceu o médico na tirinha passada.
O lenhador desempenha diversas tarefas para a turma, sempre com uma expressão facial/linguagem corporal preocupada e cansada até que após trocar algumas palavras com Mônica, vai embora com um semblante de arrependimento, enquanto a turma o observa com olhares de desprezo. Acessando seus conhecimentos de mundo, você provavelmente percebeu que as atividades desempenhadas pelo lenhador substituiam algumas funcionalidades de árvores (dar sombra, dar frutos, e servir de apoio físico para balanços e redes) e que existe um tronco cortado no cenário do ultimo quadro. Preciso explicar essa? (Caso precise, a turma força ele a fazer o que a árvore podia oferecer para puni-lo por tê-la cortado, atividades que o cansam e o fazem se arrepender de ter cortado a árvore. O lenhador aprende a lição e vai embora.). Mesmo com conhecimentos limitados de língua inglesa, você provavelmente conseguiu entender a mensagem dessa história com facilidade, já que os outros elementos da narrativa gráfica também nos enchem de informações.
"Ah Tony, mas se eu não entender o que está escrito e os elementos restantes não me derem muita coisa pra trabalhar, o que eu faço?" Lembra da Aula 1 que eu deixei o link lá no começo? Lá eu falei de estratégias de leitura como skimming e scanning, procurar cognatos, checar repetições, entre outras estratégias que podem e vão te ajudar a entender a parte escrita quando você precisar dela. Revisa lá que isso vai te ajudar nessa parte hoje também!
Lembre-se, os elementos escritos nas narrativas gráficas são muito importantes, mas existem MUITOS outros que podem tanto auxiliar quanto aprofundar seu entendimento! Não subestime esse gênero textual de maneira alguma, pois ele é uma forma de arte tão rica e complexa quanto literatura, cinema e tantas outras (e bem perigoso no ENEM se você vacilar)
Aqui eu deixo algumas vídeo aulas que podem te ajudar a entender melhor (caso eu não tenha sido tão claro assim como achei que fui, mas eu acho que eu fui, se não entendeu, LEIA DE NOVO... ou não, sei lá... eu não mando em você)
Por fim, sem mais enrolação, vamos para as atividades para que você exercite o que aprendeu hoje!
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QUESTÃO 1
Leia atentamente o texto abaixo e escolha a alternativa que melhor traduz essa tirinha:
(Tirinha retirada do site garfield.com, datada de 28 de Maio de 1992)
a) A narrativa gráfica mostra os três personagens, John, Odie e John, felizes e interagindo entre si.
b) O fundo neutro aliado e o personagem John usando a mesma roupa nos três quadros, indicam que não houve passagem do tempo entre o primeiro e o ultimo quadro e que tudo acontece ao mesmo tempo.
c) O personagem John se mostra furioso no último quadro por conta da piada que Odie e John fizeram dele, que o ofendeu.
d) O personagem John se mostra furioso no último quadro por que não compreende o que Garfield e Odie conversavam, se sentindo excluído.
e) O personagem John se mostra confuso no primeiro quadro, por não entender como um gato e um cachorro poderiam ser amaigos.
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QUESTÃO 2
Leia atentamente e escolha a alternativa que melhor traduz a mensagem da charge:
Amazon Rain Forest fire publicada em 26 de Agosto de 2019 por Dave Granlund em politicalcartoons.com
a) A charge é uma crítica ao povo brasileiro por fazer fogueiras durante as festas juninas com madeira ilegal tirada da Amazônia.
b) A charge é uma crítica às autoridades brasileiras, por não saber lidar de maneira efetiva com as queimadas na Amazônia, ao enviar bombeiros desequipados e incompetentes para resolver o problema.
c) A charge é uma crítica às autoridades brasileiras por não saber lidar de maneira efetiva com as queimadas na Amazônia, tratando o problema como menos do que ele é.
d) A charge é um elogio bem humorado à capacidade dos brasileiros de tirar o melhor de qualquer situação, mesmo diante da tragédia.
e) A charge é um elogio aos bombeiros brasileiros, que tem que ser recompensados por arriscarem sua vida combatendo as queimadas na Amazônia.
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QUESTÃO 3
Leia atentamente as duas histórias abaixo. Qual alternativa traduz melhor o que é mostrado nessas narrativas gráficas?
(Uptown Smells/Downtown Smells por Will Eisner (de Will Eisner’s City People Notebook)
a) Ambas as histórias mostram George comprando presentes para sua esposa, que fica feliz em recebê-los.
b) As histórias mostram como os cheiros de diferentes partes da cidade afetam George, inspirando-o a tentar agradar sua esposa de diversas formas, sem muito sucesso.
c) As histórias mostram como os cheiros de diferentes partes da cidade afetam George, o distraindo de seu casamento infeliz.
d) As histórias mostram George tentando se retratar por ter traído a mulher, como pode ser percebido da fala da esposa "Okay George, desembucha, o que você fez de errado hoje?"
e) As histórias mostram George tentando se retratar por ter trazido as flores erradas para sua mulher, que é alérgica, mas acabando por irrita-la novamente, ao chegar atrasado para o jantar.
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QUESTÃO 4
A tirinha abaixo:
(Doutor Ivan, por Ricardo Coimbra, postada em seu próprio blog, em 2010)
a) Ironiza a dificuldade de pessoas tatuadas de conseguir emprego.
b) Ironiza o machismo presente nas seleções de emprego, ao mostrar o personagem perdendo a vaga por ser homem.
c) Ironiza o desespero dos desempregados, dispostos a qualquer coisa por uma chance.
d) Ironiza a exploração capitalista por parte dos empresários, que forçam seus empregados a humilhações por seus empregos.
e) Ironiza o uso errôneo da palavra doutor, afinal, doutor é quem tem doutorado.
RESPONDA AS QUESTÕES ATRAVÉS DO LINK AQUI
ESPERO QUE TENHAM SE DIVERTIDO E APRENDIDO ALGUMA COISA, QUALQUER DÚVIDA MAIS URGENTE PODE SER COLOCADA NOS COMENTÁRIOS, RESPONDO ASSIM QUE PUDER! FEEDBACK DA AULA E INTERPRETAÇÕES DE VOCÊS DAS TIRINHAS TAMBÉM SÃO MUITO BEM VINDOS!
Fontes:
QUEIROZ, Jozefh Fernando Soares. Humor em quadrinhos: narrativas gráficas
brasileiras e argentinas em foco. EDUFAL, 2015, Maceió.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial; Martins Fontes Editora, 1989. Tradução
por Luís Carlos Borges.
EISNER, Will. New York: The Big City (1986)
EISNER, Will, Caderno de tipos urbanos (1989)
por Luís Carlos Borges.
EISNER, Will. New York: The Big City (1986)
EISNER, Will, Caderno de tipos urbanos (1989)
Aula por Tony Lima
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Keeven Vinícius Calheiros dantas 1° b
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Weslley otavio 1b